terça-feira, 16 de setembro de 2008


os pecados inconfessáveis das veias em fogo
da nossa ilha fechada para todos no meio da cidade
deserta de vozes

matizando a tarde de sons
de branco macio
de licor
de uísque
o gelo na ponta da língua
em vogais e consoantes abertas
a escrita na ponta da noite
o amor que escorre pelas curvas
olhares deslizantes
impúdicos

pisamos a roupa no chão
e o esboço ténue
prenúncio de cubismo
com o cheiro salgado doce da tua seiva
sobre a neblina ardente da noite
benzes-me
ante o assombro das marés
e o sopro sibilante das ramagens à beira do abismo

entre a dor e o ardor da carne viva
ou a minha claridade que se atira
atrevida
sobre as águas mansas do teu rio
ao mesmo tempo tempestuoso
nas laminas de gelo que cortam os lábios
ou a tua luz
que se cruza em risco rasgado
com um relâmpago
de libido
ansioso
latejante

eu não sei limitar (tu sabes disso)
e engulo-te
toda a noite
manhã
tarde
e noite

Eme
Imagem:
Les Demoiselles d'Avignon
Pablo Picasso - 1907

4 comentários:

ROSA E OLIVIER disse...

bonito!...e para ti...
"Velas do meu pensamento
aonde me quereis levar?"...

Anónimo disse...

Como é ke se chama musa no masculino ? Porke é como me sinto...

Beijo
M.

Nilson Barcelli disse...

Soberbo poema.
São as únicas palavras que me ocorrem depois de ter lido o que escreveste.
Para além disso escolheste a ilustração perfeita.
Beijinhos.

Anónimo disse...

...nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios...

Ricardo