segunda-feira, 6 de outubro de 2008


o pó da incerteza
no medo
na primeira pessoa
e no limite
os passos ao contrário das setas
a razão na palma da mão
e a verdade pelo avesso

o impulso de tudo
dos mínimos múltiplos comuns
um espaço impossível
e a saudade que dói nos beijos
nos rascunhos
da boca seca
o reflexo do um rio negro
escuro
o rasgar do grito
e a dor das mãos presas

há uma véspera de ausência
no excesso de lago
e no outro lado do espelho
que vejo
que revejo
que insisto
que atravesso
qual garça de água
adicta de espanto

mas dói tanto esta beleza
esta luz de quietude
estes dias de incenso
iluminados
que me afoguei em prismas de luz
refracçao (im)perfeita de cores
e vácuo
exactas
paralelas ao risco ténue
da verdade que foi uma ilha

fosse eu menos nuvem
e seria Alice
ou Coelho apressado
ou Rainha de Copas
onde acontecia tudo
antes das 11 da manhã

Eme


Imagem:
"Eleven AM"
de Edward Hooper, 1926

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Escreves muito bem e este poema é soberbo.
Gosto imenso de te ler.
Beijo.