domingo, 24 de agosto de 2008

endógena


quando me olhas aí de cima
o que há em mim de presa
vacila
e se oferece em dádiva

holocausto de caos
este gosto de acesso proibido
uma culpa
de começo da montanha a pique
a leste dos outros

um calor urgente
a faísca
convicta
um torpor
que sobe devagar
com o ardor gélido da tua saliva
que me veste
num manto de organza
e inocência

dominas-me
calas-me os gritos com os beijos
as vontades
as luzes
os gestos

a teus pés
assumidamente submissa
numa festa do corpo
uma dança da alma vestida de pele e carne
a cheirar a romãs e a mar em fúria
a alma da alma
num só corpo de cela
de gruta

escrava de ti
algemas guardadas entre os seios
as mãos presas de delírio
algemada de sentidos

as dores da delícia
e aqui me dou sem luta
acordo o mundo com gemidos
cativa das tuas mãos
flutuo rastejo acendo
arrancas a dentadas a minha rendiçao
não fujo

tomas-me
partes-me ao meio num abraço
esfolas-me em desejo
derretes-me
sufocas-me com a tua carne nua
não me rendo
não cedo
não nego


Eme

1 comentário:

LetrasAlinhadas disse...

Gostei. Muito intenso, sufocante...