quarta-feira, 27 de agosto de 2008

manhãs de água doce


o teu canto volta
debruado a fatias de mel
no reverso das horas
onde estivemos
entre as navalhas dos afectos
e o uso dos golpes
com que abrimos o desejo ao meio
quando meu grito surdo abria a corrente
de água
a alegria aos tropeções na noite
até encontrar a saída

abraças-me
penduras os segundos nos teus olhos
e eu sou júbilo de corpo
sereia de alma
e gritos de manhã clara
entre raízes amanhecidas
a gotas de água
goivos com cheiro quente
a intimidade

a culpa tatuada na pele
ou os muros em flor
no tempo de perfumar as mãos
com as pétalas achadas nos bolsos
do subtil encanto
de pecados de lua cheia
ou nesta maneira perfeita de amanhecer
quando procuro debaixo da roupa
o teu segredo
num repentino calafrio de convite e reticência

mas adormeço enrolada em ti
como se nada houvesse entre os teus braços e a presença improvável dos deuses




Eme

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