sexta-feira, 27 de junho de 2008

Rua Deserta


Um vazio urgente
imponderável
Em véspera de solidão
Veio viver naquela rua

E pelos corredores dos relógios
Emerge um tempo
Que se agiganta
esmaga a memória dos passos
E gota a gota
Apaga perfumes
E presenças.

Transversalmente
As outras ruas
Paralelas
Ao acaso
Vidas dispostas
Em ângulos rectos
Diametralmente opostas
Ao senso comum
E em espiral ascensão de morte

As ruas mais próximas são gargantas escuras
Sem voz
Matizadas aqui e ali pelo sol fugidio das tardes claras
De primavera
Onde as crianças já não brincam com carrinhos de tracção.

De tempo a tempos ouvem-se passos de um andar apressado
Na calçada de pedras luzidias
Que se afastam
Deixando que o deserto pese nas esquinas
Enquanto as folhas da amoreira são abanadas
pelo vento do silêncio.

Ao mesmo tempo
terrivel
Ao mesmo tempo
Indiferente

Eme


[Imagem de João Parassu]

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