quinta-feira, 29 de maio de 2008

Quietude


Há qualquer coisa de absurdo
de abandono cruel
impiedoso
nesta quietude
de ramagens sem vento.
Neste absoluto silêncio.
Neste tempo de esperas
sem alma.

Neste mar sem oceano
Rente ao chão

Ensurdece-me este grito de nada
sufoca-me esta mansidão
das horas.
Este espanto aberto

que me aperta os pulsos

Este solo repetido
Igual
Sempre igual
Esta dor aguda no peito
Que vai e que vem
Insistente.

Esta ânsia
de onde o meu corpo se desprende
do absoluto.
Esta felicidade corrupta
Este pecado à luz da lua
que entra pela janela.

Ou diante do amor dos gatos no telhado

Quase que me esqueço que precisava adormecer todos os meus gestos
Para encontrar os teus.

Eme


(imagem: Mulher

de René Magritte)

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